Saturday, January 01, 2005

Impassível diante do dragão

Quanto tempo nos conhecemos?
Sei lá.......
Eu vinha, você ia...
foi um encontro casual, comum.
Milhares já se encontraram assim.
Depois eu comecei a sentir algo, talvez uma saudade sem razão, sei lá...
não era tristeza, não era alegria,
era uma indecisão de amar você.

E eu passava momentos, olhando pra frente, desligado, sem ver nada.
Gozado!
Olhava e não via, estava absorto, parado, consumido por mim, uma verdadeira estátua em introspecção, estava encucado. Encucado com uma ausência que era presença.

De repente, a interrogação indecisa foi evaporando
e eu vi dentro de mim que era amor.
Você estava enquadrada no que eu queria: desde o sorriso até as lágrimas.

Você era o sim diante do altar,
você era a mão certa na escalada incerta,
você era o horizonte nítido...o agasalho...

mas eu cometi um erro: Não perguntei
se eu também era tudo isso prá você.

A verdade é que não era,
eu não estava enquadrado no que você queria.
Eu era o não.
Não era sorriso,
não era agasalho,
não era nada...

Era um ser andante maravilhosamente invisível para você.
De repente a exclamação veio em closed e eu fiquei afirmando os seus defeitos. Fiquei procurando tudo o que você fazia de errado....e você não fazia. Fiquei torcendo pra você me decepcionar. Afundei-me como arqueólogo nas ruínas da sua imagem adorada...e você permaneceu intacta.
Eu quis desmanchar a ilusão, quis vomitar um amor que me assentava bem e eu torci para você me decepcionar. Eu queria tanto sentir raiva de você, ódio, no entanto, você se manteve a mesma. Impassível diante do dragão, no qual me transformei.
Então, me decepcionei comigo porque não compensei o que queria com o que sentia. E numa noite, não muito longe, resolvi selar a carta de despedida: fechei os olhos, as lágrimas pingaram uma a uma e eu adormeci, sonhando o sonho da aceitação.

Neimar de Barros